domingo, 23 de fevereiro de 2014

DA FÍSICA PARA A METAFÍSICA - UMA JORNADA PARA PIONEIROS ESPIRITUAIS

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 [...] bons alunos costumam fazer muitas perguntas. Eles fazem perguntas construtivas, profundas, que demonstram o quanto estão interessados no assunto. Mostram que eles pensam por si mesmos, que não têm medo de desafiar velhos conceitos, velhos sistemas de crenças, antigos mitos, e que estão prontos para penetrar em territórios novos, avançar para novas fronteiras.

É exatamente isso que o pioneiro espiritual faz, também. Faz perguntas que precisam ser feitas. Pensa por si mesmo. Desafia velhos mitos, velhos conceitos, e avança para novas fronteiras do pensamento. Nunca, mas nunca mesmo, fica com medo de perguntar: "Por quê?"

Talvez seja algo assim que o renomado físico Stephen Hawking pede, em seu livro Breve História do Tempo. "Até agora", ele diz, "a maioria dos cientistas esteve por demais ocupada com o desenvolvimento de novas teorias sobre o que é o universo, e ainda não se perguntou por quê."

Segundo Hawking, não é suficiente desenvolver uma teoria unificada acerca do universo, como os cientistas estão prestes a fazer. Ele acha que devemos perguntar e responder alguns porquês muito importantes. Tais como: "Por que existe o universo, afinal de contas?" Quem ou o que estabeleceu o universo? O universo foi um "criador"? Nesse caso, existe algo que talvez tenha criado o criador? 1

Essas são perguntas difíceis. São perguntas fundamentalmente espirituais, que os físicos não podem responder sozinhos. Na opinião de Hawking, são "os filósofos" que têm de responder a essas perguntas."  [Ilustração: físico Stephen Hawking]

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DA FÍSICA PARA A METAFÍSICA -

UMA JORNADA PARA PIONEIROS ESPIRITUAIS

 

Mary Metzner Trammell

 

Era o primeiro dia de escola para minha filha. Segurando com firmeza sua lancheira vermelha, novinha em folha, ela estava de pé, entre mim e o irmão mais velho. A professora mandou que ela colocasse sua lancheira em baixo da mesa,ao lado de outras vinte e tantas lancheiras. A menina deve ter achado que não era muito lógico pôr a lancheira ali. Ela olhou para a professora e perguntou: "Por quê?"

O irmão, de oito anos, sentiu-se envergonhado. "Clara, você tem muita coisa a aprender", disse ele, pegando a lancheira da mão dela e colocando-a debaixo da mesa. Depois, deu-lhe um conselho fraternal: "Uma das coisas mais importantes, na escola, é NUNCA, MAS NUNCA MESMO, fazer perguntas!"

Agora essa filha é professora. Ela aprendeu, como eu aprendi durante meus anos de ensino, que afinal não é nada mau fazer perguntas. Muito pelo contrário, os bons alunos costumam fazer muitas perguntas. Eles fazem perguntas construtivas, profundas, que demonstram o quanto estão interessados no assunto. Mostram que eles pensam por si mesmos, que não têm medo de desafiar velhos conceitos, velhos sistemas de crenças, antigos mitos, e que estão prontos para penetrar em territórios novos, avançar para novas fronteiras.

É exatamente isso que o pioneiro espiritual faz, também. Faz perguntas que precisam ser feitas. Pensa por si mesmo. Desafia velhos mitos, velhos conceitos, e avança para novas fronteiras do pensamento. Nunca, mas nunca mesmo, fica com medo de perguntar: "Por quê?"

Talvez seja algo assim que o renomado físico Stephen Hawking pede, em seu livro Breve História do Tempo. "Até agora", ele diz, "a maioria dos cientistas esteve por demais ocupada com o desenvolvimento de novas teorias sobre o que é o universo, e ainda não se perguntou por quê."

Segundo Hawking, não é suficiente desenvolver uma teoria unificada acerca do universo, como os cientistas estão prestes a fazer. Ele acha que devemos perguntar e responder alguns porquês muito importantes. Tais como: "Por que existe o universo, afinal de contas?" Quem ou o que estabeleceu o universo? O universo foi um "criador"? Nesse caso, existe algo que talvez tenha criado o criador? 1   

Essas são perguntas difíceis. São perguntas fundamentalmente espirituais, que os físicos não podem responder sozinhos. Na opinião de Hawking, são "os filósofos" que têm de responder a essas perguntas.

E quem são esses filósofos? São os pensadores. Eles amam a sabedoria e vivem por ela. Eles questionam os sistemas limitados ou equivocados de crenças. Eles buscam leis unificadoras para interpretar e integrar o conhecimento. São pioneiros que não têm medo de ir além dos fenômenos físicos e descobrir a realidade dentro de um contexto de ordem superior, no contexto dos conceitos. Em última análise, dentro de um contexto metafísico.

 

São pessoas como estas de que vou falar:

• O cientista Edward O. Wilson, que acredita que o conhecimento físico, por si só, é parcial. Ele quer descobrir "uma unidade fundamental" entre " todas as formas de conhecimento" — uma "filosofia da ciência" ou, quem sabe, "uma teologia científica". 2

• O físico e místico oriental Fritjof Capra, que, há dez anos já advertia que "o conhecimento racional ... que mede e quantifica, classifica e analisa" é basicamente limitado. O que se faz necessário, argumentava ele, é contrabalançar esse conhecimento com um impulso para "a sabedoria intuitiva", "a religião" e a "cooperação". 3

• Os ganhadores dos prémios anuais da Fundação John Templeton, inclusive aqueles que planejam cursos universitários sobre a relação entre ciência e religião. Os cursos dados por esses ganhadores têm como título, por exemplo: "Ciência e religião na tradição ocidental" e "O papel espiritual das cosmologias em diversas culturas".4

• Milhares de participantes dos simpósios anuais (desde 1994) sobre "Espiritualidade e cura na Medicina", realizados pela Faculdade de Medicina de Harvard, que vêm estudando a correlação, muitas vezes documentada clinicamente, entre oração e cura.

• Milhares de pessoas no mundo todo que estudam regularmente a filosofia divina contida no livro de Mary Baker Eddy, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, que ousadamente anuncia, logo na primeira página do prefácio:

"E chegada a hora dos pensadores" (p. vii). Esse livro expõe uma Ciência totalmente espiritual, com base no fato de que Deus é o Princípio absoluto e intérprete único do universo. As leis dessa Ciência ditam que o puro amor de Deus por Sua criação predomina sobre todo sistema de crenças materiais. Essas leis divinas constituem uma Ciência metafísica aplicada, a "Christian Science", que pode curar dificuldades e males de qualquer espécie.

 Os pensadores mencionados acima são considerados os pioneiros de hoje. Todos eles têm a ousadia de nadar contra a correnteza do pensamento materialista prevalecente. Esses pioneiros, porém, não estão alienados da sociedade em que vivem. Ao contrário, eles ajudam a humanidade. O trabalho deles beneficia a todos. Eles estão vencendo barreiras que foram impostas a todos nós. E cada passo de progresso espiritual ajuda a nos libertar, para podermos ser aquilo que Deus quer que sejamos: o eterno fruto do Amor divino.

Este mês, estudantes e professores universitários, provenientes do mundo todo, estarão reunidos em Boston, sede da Igreja mundial que Mary Baker Eddy fundou para levar adiante os ideais expostos no livro Ciência e Saúde. Juntos, esses participantes pensarão, e repensarão, sobre sua missão como "Pioneiros do Milênio Espiritual".

O "milênio" de que vai tratar a reunião não tem nada a ver com o ano 2000. Ele tem a ver com o milênio espiritual, que a Sra. Eddy definiu certa vez como "um estado e um estágio de progresso mental, que se processa desde sempre" (The First Church of Christ, Scientist and Miscellany, p. 239).

"O objetivo", diz a organizadora da reunião, Karen Bowen, "é o de ajudar os estudantes a se considerarem pensadores — e sanadores, pioneiros espirituais que reconhecem seu relacionamento com Deus."

"Cada pioneiro é necessário", diz Bowen. "Cada um tem sua própria maneira de ser um pioneiro. E à medida que eles trilham esse caminho, o tornam mais fácil para alguma outra pessoa. Eles movem para a frente o pensamento do mundo. É como uma onda que cresce cada vez mais, até se tornar uma maré de bênçãos!"

Os pioneiros precisam superar os limites, se quiserem ir para frente. E os pioneiros espirituais superam os limites da própria matéria. Questionam coisas que a maioria das pessoas considera inquestionáveis. Eles desafiam o inteiro sistema de crenças que diz que nossa identidade, nossa inteligência, nossa carreira, nossos relacionamentos, a própria vida, são materiais. Em vez disso, eles acreditam que o Espírito é supremo, que a nulidade intrínseca da matéria deve ser posta a nu, que a física deve dar lugar à metafísica.

Cada vitória, de cada pioneiro espiritual, é uma vitória para todos nós. Cada vitória, por menor que seja, aproxima-nos do inevitável milênio espiritual. Cada passo à frente ajuda-nos a responder definitivamente os grandes "porquês" que desafiam a humanidade. Cada passo ajuda-nos a compreender com mais exatidão quem somos realmente e por que estamos aqui. E finalmente, cada vitória faz com que se torne possível, para todos nós, "conhecer a mente de Deus", como diz Hawking. 5

 

Mary Metzner Trammell
Redatora Adjunta d
O Arauto da Ciência Cristã

 

1 Stephen Hawking, A Brief History of Time (New York; Bantam, 1996), p. 233.   2 Edward O. Wilson, "Back from Chaos", The Atlantic Monthly,março de 1998, pp. 41-62. 3 Fritjof Capra, TheTao of Physics (New York; Bantam, 1988), pp. xvi, 15. 4 M. S. Mason, "Classes Ponder Faith and Science", The Christian Science Monitor; 8 de dezembro de 1997.  5 Hawking, p. 233.

 

Fonte: O Arauto da Ciência Cristã, agosto de 1998, The Christian Science Publishing Society, todos os direitos reservados.

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domingo, 16 de fevereiro de 2014

COMO SE DEVE ORAR: UMA MEDITAÇÃO SOBRE O PAI NOSSO


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HISTÓRIA:

 

Como se deve orar:

Uma meditação sobre o Pai Nosso


 

Martinho Lutero

 

No presente escrito Lutero ensina os cristãos a compreenderem toda a sua existência como vivida diante de Deus. O escrito simples e sincero é um testemunho magnífico de uma grande confiança no amor de Deus para com o mundo dos pecadores. Lutero dedicou-o a Pedro Beskendorf, um amigo de muitos anos, que foi chamado, segundo a profissão que exercia, de Pedro Barbeiro.

O escrito foi publicado no início do ano de 1535. Algum tempo depois, Pedro, provavelmente embriagado, matou seu genro. Foi um acidente, como tudo indica; mas não deixou de ser uma morte violenta. Apesar disso, Lutero, em edições posteriores, não tirou o nome do criminoso da dedicatória do escrito.

Pois sempre afirmara que Deus aceita justamente os pecadores; justamente numa situação de pecado urge apelar à misericórdia de Deus. Os contemporâneos de Lutero apreciaram muito este pequeno escrito sobre a oração. Nos 11 anos entre 1535 e a morte de Lutero (1546), o escrito foi publicado em 11 edições, além da edição no dialeto do "baixo  alemão" e em latim (Joaquim Fischer).

 

martinho 

Em primeiro lugar: Às vezes sinto que, por causa de ocupações ou pensamentos alheios, fiquei frio ou perdi a vontade de orar. Pois a carne e o diabo estão constantemente dificultando e impedindo a oração. Nesses momentos pego meu pequeno saltério, vou para o meu quarto ou, conforme o dia e a hora, para a igreja, em meio às pessoas. E passo a falar para mim mesmo, oralmente, os dez mandamentos, o credo e, dependendo da minha disponibilidade de tempo, diversas citações de Cristo, de Paulo ou dos Salmos, tudo coisas como as fazem as crianças.

É bom que, de manhã cedo, se faça da oração a primeira atividade, e de noite, a última. E cuide-se muito bem desses pensamentos falsos e enganosos que dizem: Espera um pouco, daqui a uma hora vou orar, antes ainda tenho que resolver isto ou aquilo. Porque com esses pensamentos a gente passa da oração para os afazeres que prendem e envolvem a gente a ponto de não mais sair oração o dia inteiro.

Está certo que podem aparecer tarefas diversas tão boas ou até melhores que a oração, principalmente se a necessidade as exige. Corre um dito atribuído a São Jerônimo1: "Todo trabalho do crente é uma oração". E há um provérbio que diz: "Quem bem trabalha, ora em dobro", o que significa que uma pessoa crente teme e honra a Deus em seu trabalho, e se lembra do seu mandamento, para que não faça injustiça a ninguém, nem roube, engane ou defraude a ninguém. Essa atitude, sem dúvida, faz da sua ação, adicionalmente, uma oração e um sacrifício de louvor.

Por outro lado, também não é menos verdade que a obra de um descrente é pura maldição, e quem trabalha desonestamente impreca em dobro. Pois os pensamentos de seu coração durante o trabalho só podem ser tais que ele despreze a Deus, infrinja os mandamentos e faça injustiça a seu próximo, e procure roubar e defraudá-lo.

Esses pensamentos, seriam eles outra coisa senão pura maldição contra Deus e as pessoas, pelo que sua obra e trabalho também passa a ser dupla maldição? Com isso se amaldiçoa também a si mesmo. Daí se originam mendigos e ineptos.

Quanto a essa oração constante, entretanto, Cristo diz em Lucas 11.9s: Deve-se orar sem cessar, porque é preciso que a gente se acautele permanentemente contra pecado e injustiça, o que não pode suceder onde não se teme a Deus e tem ante os olhos o seu mandamento, conforme diz o Salmo 1: "Bem-aventurado aquele que medita de dia e de noite na lei do Senhor" (v. 2), etc.

Mas também precisamos nos cuidar para que não nos desabituemos da oração certa, e, em última análise, julguemos necessárias obras, que na verdade não o são, destarte ficando enfim relaxados e preguiçosos, frios e enfastiados em relação à oração. Haja vista que o diabo, ao nos assediar, não é preguiçoso nem negligente, e a nossa carne ainda está por demais viva e disposta para o pecado, inclinando-se contra o espírito de oração.

Depois de aquecido o coração por tal pronunciamento oral, encontrando-se assim a si mesmo, ajoelhe-se ou fique parado, com as mãos postas em oração e os olhos voltados para o céu, e fale ou pense tão brevemente quanto pode:

O Pai celeste, Deus querido, sou um pecador pobre e indigno, que não mereço levantar meus olhos ou minhas mãos para ti e orar. Mas como nos mandaste a todos orar, e ainda prometeste atender-nos, e nos ensinaste inclusive as palavras que devemos usar e a maneira como fazê-lo através do teu Filho amado, nosso Senhor

Jesus Cristo, venho obedecer a esse mandamento. E me fio em tua promessa graciosa, e, em nome de Jesus Cristo, oro com todos os teus santos cristãos na terra, como ele me ensinou:


1. "Pai nosso, que estás no céu, santificado seja o teu Nome"

Em seguida repita uma parte ou quanto quiser, como a primeira petição, a saber: "santificado seja teu nome", e diga: Vem, Deus Senhor, Pai querido, santificar o teu nome tanto em nós mesmos como em todo o mundo! Destrói e elimina os horrores, a idolatria e heresia do turco, do papa e de todos os falsos doutrinadores ou espíritos sectários,1 que usam teu nome de forma enganosa e assim dele abusam de maneira descarada e blasfemam terrivelmente.

E afirmam tratar-se de tua palavra e do preceito da igreja. Mas não passa de mentira e dolo do diabo, com o que em teu nome transviam em todo o mundo tantas pobres almas rumo à miséria; e além disso ainda perseguem, matam e derramam sangue inocente, achando que assim estão prestando culto a ti.

Senhor Deus querido, converte e põe um fim. Converte aqueles que ainda precisam ser convertidos, para que venham conosco e nós com eles a honrar, santificar e glorificar o teu santo nome, com doutrina pura e genuína e com uma vida benigna e santificada. Não consintas, porém, que aqueles que não se querem converter, continuem a abusar, profanar e desonrar o teu santo nome e a transviar as pobres pessoas, amém.


2. "Venha a nós o teu Reino"

Diga: Ah, querido Senhor Deus e Pai, estás vendo que não é somente a sabedoria e entendimento do mundo que difamam teu nome e entregam a tua glória à mentira e ao diabo. Todo o seu poder e mando, sua riqueza e glória que lhes deste sobre a terra para governar no âmbito secular e com isto te servir, estão se opondo e resistindo a teu reino.

Eles são grandes, poderosos e em grande número, gordos, obesos e fartos, e atormentam, impedem e perturbam o pequeno punhado do teu reino, homens fracos, desprezados e insignificantes. Não os querem tolerar sobre a terra, e ainda acham que assim estão te prestando um grande culto.

Querido Senhor, Deus e Pai, aqui converte e susta. Converte aqueles que ainda precisam tornar-se filhos e membros do teu reino, para que eles conosco e nós junto com eles te sirvamos em teu reino em fé genuína e amor autêntico e passemos deste reino iniciado para o reino eterno. E impede aqueles que não querem deixar de usar seu poder e capacidade para perturbar o teu reino, de sorte que, derrubados do seu trono e humilhados, tenham que parar com isso, amém.


3. "Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu"

Diga: Ah, querido Senhor Deus e Pai, tu sabes como o mundo, não podendo eliminar por inteiro o teu nome e acabar com teu reino por completo, lida dia e noite com ardis e peças malvadas, tramam toda sorte de estranhos atentados, ficam maquinando e conspirando, apoiam-se e se fortalecem mutuamente, ameaçam e se enfurecem, atentam com as piores intenções contra o teu nome, tua palavra, teu reino e teus filhos, procurando matá-los.

Por isso, querido Senhor Deus e Pai, leva à conversão e acaba com isso. Converte aqueles que ainda devem reconhecer tua boa vontade, para que junto conosco e nós com eles obedeçamos a ela e desta forma suportemos com paciência e alegria todo mal, cruz e vicissitude, e nisto reconheçamos, provemos e experimentemos tua vontade benigna, misericordiosa e perfeita. Acaba, porém, com aqueles que não querem renunciar à sua fúria, raiva, ódio, ameaça e má intenção de prejudicar. Aniquila e desmascara seus desígnios, atentados e tramoias malvadas. Que se voltem sobre eles mesmos, como canta o Salmo 7.16, amém.


4. "O pão nosso de cada dia dá-nos hoje"

Diga: Ah, querido Senhor Deus e Pai, concede tua bênção também para esta vida temporal e física. Dá-nos misericordiosamente a paz preciosa. Protege-nos de guerra e tumulto. Concede ao nosso caro senhor imperador boa sorte e sucesso contra seus inimigos; dá-lhe sabedoria e entendimento, que governe seu reino terreno com tranqüilidade e felicidade. Dá a todos os reis, príncipes e senhores o bom conselho e intento de manterem seus países e sua gente em pleno gozo de paz e justiça.

Principalmente ajuda e orienta nosso querido senhor territorial N., sob cuja proteção e tutela tu nos guardas: Que ele nos proteja de todo mal, e governe de forma bem-aventurada e a salvo de más línguas e gente desleal. Concede a todos os súditos a graça de servirem fielmente e de serem obedientes. Dá que todas as classes, todos os cidadãos e camponeses permaneçam devotos e manifestem amor e lealdade entre si. Concede bom tempo e frutos da terra; encomendo-te também casa e quinta, mulher e filhos.

Ajuda que eu os dirija bem e os crie e eduque de forma cristã. Rechaça e domina o perversor e a todos os anjos malignos que nisso causam dano e estorvo, amém.


5. "Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores"

Diga: Ah, querido Senhor Deus e Pai, não nos leves ao juízo, porque perante ti nenhuma pessoa viva é justa (Salmo 143.2). Ah, não nos imputes como pecado o fato de sermos infelizmente tão ingratos por toda a tua indizível bênção, espiritual e corporal, e de tropeçarmos e pecarmos muitas vezes todos os dias, mais do que sabemos ou podemos perceber (Salmo 19.12). Não leves em consideração quão piedosos ou maus somos, mas sim a tua misericórdia insondável, a nós concedida em Cristo, teu Filho amado.

Perdoa também a todos os nossos inimigos, a todos que nos fazem sofrer ou nos fazem injustiça, assim como também nós lhes perdoamos de coração. Pois eles fazem o maior mal a si mesmos ao provocarem a tua ira através de seu comportamento em relação a nós; e a nós de nada adianta a sua perdição, mas sim em muito preferiríamos que tivessem a bem-aventurança conosco, amém. (E quem neste ponto sente que não pode perdoar facilmente, queira pedir a graça de poder perdoar. Mas isto faz parte da pregação.)


6. "E não nos deixes cair em tentação"

Diga: Ah, querido Senhor, Deus e Pai, conserva-nos resolutos e bem dispostos, ardorosos e aplicados em tua palavra e serviço. Que não nos sintamos seguros, preguiçosos e relaxados, como se agora tivéssemos tudo, e o diabo ferino nos assalte e tome de surpresa, e nos tire de novo a tua palavra preciosa ou provoque discórdia e sectarismo entre nós, ou ainda nos atraia ao pecado e à vergonha, seja espiritual ou corporal; mas dá-nos, por teu Espírito, sabedoria e força, para que lhe resistamos com bravura e obtenhamos a vitória, amém.


7. "Mas livra-nos do mal"

Diga: Ah, querido Senhor, Deus e Pai, esta vida miserável é tão cheia de aflição e infelicidade, tão cheia de perigo e insegurança, tão repleta de deslealdade e maldade (como diz São Paulo: "Os dias são maus" - Efésios 5.16), que bem deveríamos estar cansados da vida e desejosos da morte. Tu, porém, Pai amado, conheces nossa fraqueza.

Por isso, ajuda-nos a atravessar seguros esses múltiplos males e maldades. E quando chegar a hora, dá-nos um fim misericordioso e uma despedida venturosa deste vale de aflição. Que não nos amedrontemos diante da morte, nem desanimemos, mas, com fé resoluta, entreguemos nossas almas em tuas mãos, amém.

Por fim, observe que de cada vez você tem que fazer o amém bem forte, sem duvidar de que Deus o está ouvindo com certeza, com toda a graça, e diz sim à sua oração. E lembre-se de que não está sozinho ajoelhado ou parado. Toda a cristandade ou todos os cristãos devotos estão com você, e você entre eles, em oração unânime e concorde, a qual Deus não pode desprezar. E não largue da oração, a não ser que tenha dito ou pensado: Bem, esta oração foi ouvida por Deus, disso tenho certeza e o sei de verdade. Isso é o que significa "Amém".

Igualmente você deve saber que não quero que todas estas palavras sejam ditas na oração. Isso acabaria dando num palavrório e pura conversa vazia, recitado do livro ou da letra como o foram o rosário entre os leigos e as orações dos padres e monges. Muito pelo contrário, quero com isso ter estimulado e ensinado o coração, acerca dos pensamentos que se deve ter durante o Pai nosso.

E a esses o coração (quando estiver bem aquecido e disposto a orar) pode expressar muito bem com muitas outras palavras, também com menos ou mais palavras. Pois eu mesmo também não me prendo a essas palavras e sílabas, mas as falo hoje de um jeito, amanhã de outro, conforme estou propenso e disposto. Mesmo assim, sempre me atenho, o quanto posso, a este mesmo pensamento e sentido.

Muitas vezes acontece que, em alguma parte ou petição do Pai nosso, eu venho a me delongar em pensamentos tão ricos, que deixo esperar todas as outras seis. E quando vêm tais pensamentos ricos e bons, deve-se deixar de lado as outras preces e dar lugar a esses pensamentos e ouvi-los em silêncio, não os impedindo de modo algum; pois ali está pregando o próprio Espírito Santo. E uma palavra de sua pregação é melhor do que mil orações nossas. Assim também, frequentemente, aprendi mais em uma só oração do que poderia ter conseguido com muita leitura e reflexão.

Por essa razão é de suma importância que o coração fique livre e disposto para a oração. Como também o diz Eclesiastes: "Prepara teu coração antes da oração, para que não ponhas Deus à prova" (Eclesiastes 5.1s e Eclesiástico 18.23).

Que outra coisa é, senão tentar a Deus, se a boca fica tagarelando e o coração está distraído em outros lugares? - como aquele padre que reza assim: Deus, in adiutorium meum intende - peão, já atrelaste o cavalo? - Domine, ad adiuvandum me festina - criada, vai tirar leite das vacas; Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto. - anda, guri, que a peste te pega, etc. -; (as três passagens latinas citadas significam: "Deus, vem em meu socorro", "Senhor, apressa-te em me ajudar" e "Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo". Lutero aqui ilustra como a reza das horas canônicas sofre interferência dos afazeres diários).

Dessas orações ouvi e experimentei muitas em meu tempo no papado. E quase todas as suas orações são deste tipo, com que apenas se zomba de Deus. Seria melhor que ficassem brincando, ao invés, já que não podem ou não querem fazer nada de melhor. Eu mesmo orei muitas dessas horas canônicas em meus dias, infelizmente, de sorte que o salmo ou a hora se tinha passado sem que eu me desse conta se estava no começo ou no meio.

Nem todos se deixem levar, no que dizem, como o padre acima mencionado, misturando os afazeres com a oração. Não obstante procedem assim no coração com os pensamentos, perdem-se em mil fantasias, e ao chegarem no fim, não sabem o que fizeram ou por que partes passaram; começam dizendo "Laudate", e já estão no país das mil maravilhas.

Acho que ninguém acharia ludíbrio mais ridículo, se alguém pudesse ver os pensamentos que um coração frio e sem devoção vai misturando durante a oração. Mas, agora, louvado seja Deus, estou vendo que não é uma boa oração se alguém se esquece do que falou. Porque uma oração bem feita considera cuidadosamente todas as palavras e pensamentos do início até o fim da oração.

Assim, um barbeiro aplicado e competente tem que voltar seu pensamento, sua atenção e seus olhos, com muita precisão, para a navalha e os cabelos, e não se descuidar, não sabendo que esteja afiando ou cortando. Mas, se ele, ao mesmo tempo, quisesse fazer muita conversa ou ficar pensando ou olhando outras coisas, certamente iria cortar fora a boca ou o nariz, e até o pescoço.

Desta forma, cada coisa que é para ser bem feita, quer ter a pessoa inteira, com todos os seus sentidos e membros, como se diz: "pluribus intentus minor est ad singula sensus" - Quem pensa em muita coisa, não pensa em nada, também não faz nada direito.

Tanto mais a oração precisa ter o coração uno, por inteiro e exclusivo, se é que deva ser uma boa oração. Com isso está brevemente descrita a forma como eu mesmo costumo orar o pai-nosso ou qualquer oração. Pois ainda hoje me alimento do pai-nosso como um bebê, dele bebo e como feito um velho; não consigo me fartar dele, sendo para mim a melhor de todas as orações, mais ainda que os salmos (que realmente aprecio muito).

Na verdade, vemos que foi o bom Mestre que a criou e ensinou, e é profundamente lamentável que tal oração, de tão excelente Mestre, seja recitada sem qualquer devoção e assim desvirtuada em todo o mundo. Muitos há que rezam talvez mil pai-nossos por ano, e mesmo que rezassem durante mil anos, não teriam provado nem orado sequer uma única letra ou pontinho. Enfim, o pai-nosso é o maior dos mártires sobre a terra, (como nome e como palavra de Deus). Pois todo mundo o maltrata e abusa dele, sendo poucos os que o consolam e alegram com uso conveniente.

Fonte: Do Escrito Como se deve orar, para o Mestre Barbeiro ("Wie man beten sol, fur Meister Peter Balbirer") 1535; WA 38, 358-375.

 

"Como se deve orar: Uma meditação sobre o Pai Nosso" foi publicado para refletirmos sobre a importância do estudo da Bíblia em seu contexto histórico, nas dimensões política, social, cultural e econômica em que seus relatos foram escritos. Conforme recentes descobertas sobre fatos nela registrados e a opinião de estudiosos do texto bíblico. Com o objetivo de alcançarmos o significado espiritual das Escrituras.

O texto não representa necessariamente a opinião deste blog ou do Movimento da Ciência Cristã – A Primeira Igreja de Cristo Cientista, em Boston, ou qualquer de suas filiais, sociedades ou grupos informais de estudos, existentes em diferentes países do mundo.

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PARA REFLETIR:

 

"Seja-me permitido dar aqui o que entendo ser o sentido espiritual da Oração do Senhor: 

 

Pai nosso que estais no céus,

Nosso Pai-Mãe todo-harmonioso,

Santificado seja o Teu nome;

Único adorável.

Venha o Teu reino,

O Teu reino já veio; Tu estás sempre presente.

Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu;

Faze-nos saber que - como no céu, assim também na terra - Deus é onipotente, supremo.

O pão nosso de cada dia dá-nos hoje;

Dá-nos graças para hoje;  alimenta as afeições famintas;

E perdoa-nos nossas dívidas, assim como nós temos  perdoado aos nossos devedores;

E o Amor se reflete em amor;

E não nos deixe cair em tentação; mas livra-nos do mal;   

E Deus não nos deixa cair em tentação, mas livra-nos do pecado, da doença e da morte.

Pois Teu é o reino, o poder e a glória para sempre.

Pois Deus é infinito, todo poder, toda Vida, Verdade, Amor; está acima de tudo e é Tudo."

 

Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, por Mary Baker Eddy 

 

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